Cultura de Segurança: Do Compromisso à Cuidado Genuíno
- 19 de ago. de 2024
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A construção de uma cultura de segurança sólida é uma jornada contínua, onde cada passo é essencial para garantir um ambiente de trabalho seguro e produtivo. Diversas abordagens têm guiado as organizações neste caminho, desde frameworks tradicionais como "Hearts and Minds" e a "Curva de Bradley" da DuPont, até a visão contemporânea de Clive Lloyd, que propõe uma liderança baseada em cuidado genuíno. Além disso, a própria IOGP – International Association of Oil & Gas Producers, traz alguns insights sobre a cultura de segurança, ou mesmo organizacional.
Curva de Bradley: Uma Progressão Estruturada
A "Curva de Bradley" da DuPont fornece um mapa claro para a maturidade em segurança, delineando uma progressão desde uma abordagem reativa até a interdependência. Neste modelo, as organizações passam por estágios onde, inicialmente, a segurança é vista como responsabilidade de poucos, até o ponto em que se torna uma preocupação compartilhada e profundamente enraizada na cultura de trabalho.
Reativo: Dependência na resposta a incidentes para gerenciar a segurança.
Dependente: Sistemas e regras são seguidos para garantir a segurança.
Independente: As pessoas começam a assumir responsabilidade pessoal pela segurança.
Interdependente: Equipes trabalham juntas para criar um ambiente seguro, com uma responsabilidade compartilhada.
Hearts and Minds: Conectando Emoção e Ação
O programa "Hearts and Minds," desenvolvido pela Shell e promovido pelo Energy Institute, é um framework baseado no fato que na gestão de segurança, o sistema é só o começo, não o fim. É valorizar o potencial das pessoas para melhorar a execução das tarefas, as condições de trabalho e o próprio sistema de segurança. Assim, transformamos a cultura da organização – “a maneira como fazemos as coisas por aqui”. E essa cultura não só eleva a segurança, mas também a eficiência e o bem-estar.
O Hearts and Minds reconhece que as pessoas vêm para o trabalho para fazer um bom trabalho, não para se machucar.
Estágios:
1. Patológico: Segurança é vista como um problema dos trabalhadores.
2. Reativo: Segurança é importante, mas a ação é reativa após incidentes.
3. Calculativo: Processos e sistemas de segurança são estabelecidos, mas ainda são principalmente geridos pela alta administração.
4. Proativo: Segurança começa a ser vista como um valor fundamental, e os funcionários se envolvem mais ativamente.
5. Generativo: A segurança é completamente integrada e uma parte central da cultura organizacional.
Clive Lloyd: Liderança da Próxima Geração
Clive Lloyd, em "Next Generation Safety Leadership: From Compliance to Care," desafia as práticas tradicionais, propondo uma evolução do simples cumprimento de regras para uma liderança que valoriza o cuidado genuíno. Lloyd identifica cinco estágios de evolução cultural:
1. Apatia: A segurança é vista como uma obrigação incômoda, com mínima ou nenhuma integração nas operações diárias.
2. Reativo: As ações de segurança são motivadas por incidentes, onde a resposta a falhas é a principal preocupação.
3. Envolvimento: A segurança começa a envolver mais colaboradores, com foco em comportamentos seguros e em iniciativas de envolvimento.
4. Proativo: A organização adota uma postura proativa, antecipando e prevenindo riscos antes que eles se manifestem.
5. Integrado: A segurança é completamente integrada na cultura organizacional, guiada por um cuidado genuíno, onde todos na organização compartilham a responsabilidade pela segurança.
Elementos de uma Cultura Forte de Segurança - IOGP
Para alcançar uma cultura de segurança sólida, conforme estabelecido pela IOGP, as organizações devem focar nos seguintes elementos:
Compromisso da Liderança: A alta administração deve liderar pelo exemplo, demonstrando um forte compromisso com a segurança em todas as decisões e ações.
Envolvimento dos Funcionários: Incentivar a participação ativa dos colaboradores em iniciativas de segurança, desde o relato de preocupações até a contribuição na identificação de riscos e soluções.
Comunicação Aberta: Promover uma comunicação clara e transparente sobre questões de segurança, onde os colaboradores se sintam seguros para expressar preocupações sem temor de represálias.
Treinamento e Desenvolvimento: Oferecer treinamento contínuo para garantir que todos os funcionários tenham as habilidades e conhecimentos necessários para trabalhar de forma segura.
Aprendizado Contínuo: Implementar sistemas que permitam aprender com erros e quase-acidentes, com foco em prevenir recorrências.
Responsabilidade e Prestação de Contas: Estabelecer responsabilidades claras para a segurança, garantindo que todos compreendam e sejam responsabilizados por suas ações.
Reconhecimento e Recompensa: Criar mecanismos para reconhecer e recompensar comportamentos seguros e iniciativas de segurança, incentivando uma cultura que prioriza a segurança.
Flexibilidade e Adaptabilidade: Manter a capacidade de adaptar-se rapidamente a novas informações, mudanças operacionais ou novos riscos, garantindo uma resposta eficaz em situações de segurança.
Foco na Prevenção: Adotar uma postura proativa, focando na prevenção de incidentes antes que eles ocorram, em vez de apenas reagir a eventos após sua ocorrência.
Conclusão
Não há dúvidas de que a transição de uma abordagem focada apenas no cumprimento de regras para uma cultura de segurança verdadeiramente integrada e baseada em cuidado genuíno é essencial para criar um ambiente de trabalho onde a segurança se torne uma prioridade compartilhada e profundamente enraizada na cultura organizacional. No entanto, essa transformação é uma jornada gradual e contínua. Assim como em uma escada, ao alcançar um novo degrau, é crucial manter o progresso nos degraus anteriores, garantindo que cada avanço seja consolidado e sustentado ao longo do tempo.

Parabéns pelo texto, muito rico!